sábado, 24 de maio de 2008

Economia dos consoles

Oi Pessoal

Qual seria a semelhança entre lâminas de barbear, impressoras a jato de tinta e consoles de vídeogame? O modelo econômico que eles utilizam. Todos os casos anteriores baseiam-se na idéia de vender um componente com margem de lucro extremamente baixa ou com prejuízo e o componente de uso recorrente com uma margem que compense a operação. No caso de impressoras, o lucro, normalmente, vem da venda dos cartuchos.
Por isso é que a HP coloca restrições no reuso dos seus cartuchos e, em alguns casos ocorrem até ações judiciais neste sentido. E no caso de consoles de videogame?
O console é vendido com uma margem baixa ou com prejuízo e o lucro está na venda dos jogos. Cada produtor de jogos deve pagar ao produtor do console um valor por jogo vendido. É óbvio que quanto maior a base de consoles, mais produtores de jogos terão interesse de desenvolver para aquela plataforma, pois a possibilidade de retorno de investimento é maior.
Também por causa disso é que, no mercado de computadores pessoais, a primeira opção de desenvolvimento é Windows e, depois, pensa-se em Linux ou MacOS.
Em tempos de pré-lançamento do Playstation 3 é interessante conhecer a história recente destes consoles, especificadamente o Xbox 1, o PS2 e o Xbox 360. Em primeiro lugar vamos analisar como a lei de Moore atua nos consoles e qual a diferença para os PC’s tradicionais. Em um PC, a cada ano que passa, compra-se, com a mesma quantidade de dinheiro, uma máquina cada vez melhor. Se seguíssemos estritamente a lei, de Moore compraríamos uma máquina com o dobro de processamento da antecessora a cada 18 meses. (existem algumas alterações nas leituras da lei de Moore, fico aqui com a definição original e deixo para Paulo Couto colocar uma excelente colocação nos comentários) E no caso de consoles? Normalmente o tempo de vida útil de um console é de cinco anos.
Neste tempo, pela lei de Moore, com a mesma quantidade de dinheiro deveria ser possível comprar uma máquina oito vezes mais rápida, mas não é isso o que acontece. No mercado de consoles, a capacidade de processamento das máquinas e suas funcionalidades são fixas, logo, os fabricantes utilizam a lei de Moore na redução dos custos de fabricação e o que pode implicar a redução do preço de venda.
É normal iniciar a produção de um console com prejuízo e, no redesenho do projeto, ir reduzindo o preço até chegar a uma produção com lucro. Qual é o elemento de maior custo de um console de videogame? O seu processador e seu chip gráfico. O custo de fabricação de um chip é proporcional ao seu tamanho. Quanto maior o chip, mais caro ele é. Estes dois chips, pela sua complexidade, são os maiores de um console de videogame e os mais caros. O principal foco dos fabricantes está nestes dois chips. O que aconteceu com a Microsoft no primeiro Xbox? Comprou o processador da Intel e o chip gráfico da NVidia. A lógica da Microsoft naquele momento foi desenvolver um console com partes comoditizadas do mercado de PC’s, aproveitando o ganho de escala deste mercado e a sua experiência no desenvolvimento de software para este ambiente. O problema nesta lógica é que o mercado de PC’s está acostumado a manter as suas margens históricas de lucro e não vai manter em linha de produção um determinado componente obsoleto com uma margem inferior. Os participantes deste mercado irão preferir se concentrar nas novas linhas de produto que agreguem maior margem de contribuição. Moral da história? A Microsoft ficou na mão destes dois fabricantes, que não acompanhavam as quedas de preço associadas ao aumento da produtividade dos chips. Estes fabricantes estavam no mercado deles e não iriam se beneficiar do aumento do tamanho da base de console e da futura venda de jogos. Continuavam a manter as suas margens.
Em 2003, grande parte do faturamento da NVidia era oriundo do projeto XBox. A Microsoft e a Nvidia recorreram a uma câmara de arbitragem para resolver o problema do preço dos chips que foi resolvido em 2003. No meio de 2005, a Microsoft reconheceu que já tinha perdido quatro bilhões de dólares no projeto XBox. Enquanto isso quanto ao PlayStation II, a Sony nadava de braçada. Com uma base instalada do PS I e a propriedade intelectual de todos os seus componentes, a Sony podia fazer o que quisesse, beneficiando-se diretamente da redução de custos na fabricação dos chips. Existem 16 revisões conhecidas do projeto do PlayStation II até 2006. Na revisão número 12 ou 13 (existem controvérsias quanto a esta numeração), a Sony conseguiu juntar os seus dois chips em um único, reduzindo os custos de fabricação, montagem, encapsulamento etc. No final de 2005, a Microsoft vendeu 22 milhões de XBox, enquanto a Sony tinha colocado 100 milhões de PlayStations II no mercado. Isso, com a Microsoft perdendo dinheiro a cada console vendido. Em Janeiro de 2002 a Microsoft inicia o projeto do XBox 360, naquela época chamado internamente de Xenon. Neste projeto fazia parte da estratégia da Microsoft:
O XBox 360 tinha que ser lançado antes do PlayStation III, com o objetivo de capturar previamente o mercado de consoles de sexta geração. Eles teriam que criar um console que fosse competitivo sem terem a mínima idéia do que a Sony lançaria. Para isso, utilizaram algumas ferramentas de inteligência competitiva como monitoração de patentes utilizando a
Jon Peddie Research, uma empresa especializada neste setor.
A Microsoft seria dona de toda a propriedade intelectual dos dois principais chips. Depois de muita negociação (Intel, IBM, ATI, ARM e acreditem, até a NVidia), foram escolhidas a IBM - esqueçam rusgas por causa do DOS e OS/2 - e a ATI para desenhar estes dois chips. O projeto foi entregue para a Microsoft que poderá fabricar onde bem entendesse. O jogo ainda não foi jogado, mas até agora a Microsoft já conseguiu colocar 3.2 milhões de Xbox 360 do lançamento em novembro de 2005 até março de 2006. Vamos ver como o mercado vai reagir à entrada do PlayStation III.

Ter adicionado o leitor BluRay que deve custar mais US$ 200,00 a US$ 300,00 por console foi uma boa decisão? Vão conseguir produzir o volume previsto com confiabilidade? Vão conseguir reduzir o preço do leitor? Será que a Sony vai comprometer uma das suas jóias da coroa por causa de uma nova briga de padrões (depois eu faço uma pequena matéria sobre VHS x Betamax)?
E o processador Cell, vai ser fácil de programar ou, será, como disse o J. Allard da Microsoft, um processador para ganhar feiras de ciências?


Fonte:FórumPC


Att



Juliana Prado Uchôa
Microsoft Student Partner
Líder do grupo CHANNEL TI

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